“Fui convidado para um festival que fazia parte da Bienal de Thessaloniki. Quando cheguei, vi vários africanos vendendo coisas na rua. Havia cinco ou seis. Mas todos as pessoas negras que vi estavam vendendo nas ruas. Então perguntei ao curador sobre o status legal dessas pessoas, se elas estavam fugindo da polícia. Ela explicou que, embora essas pessoas tivessem filhos na Europa, elas não possuíam cidadania ou residência. Em outras palavras, eles convivem com o fantasma da ilegalidade e com a possibilidade de serem expulsos todos os dias. Na Grécia e em toda a União Europeia, você vive com isso dia a dia. Aí nasceu o meu trabalho Expulsão”.
Carlos Martiel –Entrevista com Marcial Godoy-Anativia e Marcos del Cogliano
Esta multimídia oferece uma seleção de obras de Carlos Martiel que refletem direta ou indiretamente sobre a ideia de “expulsão”. A obra homônima do artista cubano, cujo registro publicamos nesta edição, encena o momento em que as doze estrelas da bandeira europeia, costuradas pelos cinco pontos sobre a pele nua de Martiel, são extraídas do seu corpo e descartadas. Esse registro de fragilidade e dor, essa condensação de soberania e dependência, destaca tanto a intimidade do processo coercitivo de cidadania, como a violência racializada de sua recusa na Europa, nas Américas e no resto do mundo.
Obras como Segregação, Sujeito ou Remoção refletem sobre os dispositivos públicos e não públicos através dos quais o estado e o capital produzem, gerenciam e extraem valor sobre populações projetadas como descartáveis. Estas peças insistem no conceito de expulsão e nos permitem entender e relacionar-nos com processos históricos e contemporâneos de deslocamento forçado e remoção.
Sobre o artista
Carlos Martiel (1989) vive entre Nova York e Havana. Graduou-se em 2009 da Academia Nacional de Belas Artes San Alejandro, em Havana. Entre os anos 2008-2010, estudou na Cátedra Arte de Conducta, dirigida pela artista Tania Bruguera. Sua obra participou em grandes bienais ao redor do mundo, entre elas, a Bienal de Veneza; a Bienal de Casablanca; a Bienal “La Otra”, de Bogotá; a Bienal de Liverpool; a Bienal de Pontevedra; a Bienal de Havana, etc. Apresentou-se na Robert Miller Gallery de Nova York; no Centro de Arte Walker, Minneapolis; no Museu de Arte Latino-Americana (MOLAA), Long Beach; no Museu de Belas Artes de Houston (MFAH); no Museu de Arte Contemporânea do Zulia (MACZUL), Maracaibo, Venezuela; na Padiglione d’Arte Contemporanea, Milão, Itália; no Museu Nacional de Belas Artes de Havana, etc. Além disso, Martiel recebeu vários prêmios internacionais, entre eles, o Franklin Furnace Fund de Nova York (2016); o Prêmio ao Programa de Subvenções e Comissões CIFOS, de Miami (2014); e o Prêmio Arte Laguna de Veneza (2013).